Uma situação alarmante: a praga do crack se espalha nas pequenas cidades do interior do país. A droga, uma das mais destruidoras, faz cada vez mais vítimas onde não existe prevenção nem tratamento dos dependentes.
Traficantes vendem crack tranquilamente. Não se intimidam nem com a passagem da polícia Contam dinheiro nas ruas, distribuem a droga. Em uma rua dominada pelo crack, a droga passa pelas mãos de homens, mulheres e crianças.
As imagens do Centro de São Paulo são um retrato explícito do consumo do crack no Brasil. A droga hoje está presente em 92% dos municípios do país, segundo uma pesquisa recente. Chegou até cidades muito pequenas, pacatas.
Como Buri, a 250 quilômetros de São Paulo. A cidade tem 18.500 habitantes. No ano passado, a droga se tornou uma das maiores preocupações do prefeito Claudio Ú Fonseca. “Está devastador. Todas as escolas têm o pequeno traficante vendendo ou dando o tal do crack”, desabafa. Ele calcula que das 4 mil crianças nas escolas de ensino fundamental, 1,5 mil estão expostas ao crack. Há traficantes nas redondezas das escolas e troca da droga se espalha entre os próprios alunos.
Oitenta por cento dos casos de crianças e jovens que abandonam a escola em Buri estão ligados ao crack.
“Alguns assistem à primeira aula, depois ficam duas aulas fora. Retornam para o intervalo. Aí já retornam assim com comportamento estranho, sem limites”, conta a diretora Maria Cecília de Lima.
Uma solução encontrada pela Prefeitura de Buri foi a construção de muros altos nas escolas, com arame farpado em cima. Algo nada comum em cidades pequenas. Mas a intenção é impedir que os traficantes levem a droga para dentro e que os alunos fujam das escolas para consumir crack.
Uma manicure descobriu que o filho de 12 anos é usuário. O menino deixou de ir à escola, fugiu de casa e já não fala mais com mãe. “Hoje mesmo eu o vi na rua. Eu tento todas as vezes falar com ele, só que ele foge. Ele não fala comigo”, conta. A mãe pediu à Justiça a internação do menino.
O que uma cidade como Buri tem a oferecer para uma família que tem problema com drogas? “Hoje não tem nada a oferecer. Não tem um grupo de apoio, não tem um AA, não tem um Narcóticos Anônimos. Então, o tráfico vê em Buri um ambiente propício para se instalar”, explica Paola Bertocco, promotora de Justiça de Buri.
A pesquisa da Confederação Nacional de Municípios confirma que 64% das cidades entrevistadas têm dificuldade para tratar os usuários. Nos municípios pequenos, o problema é ainda mais grave. Em muitas deles, não há centros especializados para atendimento e internação. Um exemplo é Itajuípe, na Bahia, com 21 mil habitantes.
A mãe de duas dependentes, uma de 22 anos e outra de 30 encontrou opções de tratamento pagas. “Eu não tenho condições de pagar R$ 200, R$ 300. Não tenho. Elas dizem 'Mãe, se arrumar um lugar assim para eu ir, eu quero'. E eu tenho meu sonho que apareça esse lugar, né?”, espera a mãe.
Quem procura atendimento é enviado pela Prefeitura de Itajuípe a outros municípios. Em Minas Gerais, o pintor Cléber teve de viajar para conseguir tratamento em Montes Claros. Ficou lá por nove meses, mas não conseguiu acabar com a dependência. “Perdi minha identidade própria, respeito da sociedade”, lamenta.
“O crack é seguramente uma das drogas mais agressivas que a gente conhece. As cidades pequenas, via de regra, estão menos aparelhadas para lidar com um problema que demanda uma atitude multifatorial para dar conta do problema”, diz o professor Unifesp Dartiu Xavier da Silveira.
Estrutura nem sempre é suficiente. São Paulo, a maior cidade do Brasil, centro financeiro do país, sofre há anos para combater o tráfico e acabar com a cracolândia. “Temos mais de mil vagas de internação na cidade, programas especializados, mesmo com isso, o trabalho é muito lento. As pessoas não aderem ao tratamento e depois interrompem o tratamento”, explica Januario Montone, secretário municipal de Saúde de São Paulo.
O Governo Federal vai lançar nos próximos dias um plano de combate ao crack. Serão criados consultórios de rua, que funcionarão como postos móveis de atendimento a dependentes químicos. Também haverá recursos para o treinamento de equipes e de prevenção.
“Se nós capacitarmos um educador para lidar com essa questão no início, no possível início de consumo, certamente esse aluno não vai chegar em condição de internamento”, alega Paulina Duarte, secretária nacional de políticas sobre drogas.
O município de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, é um exemplo de sucesso no combate ao crack. O próprio prefeito, Luiz Vicente Pires, foi dependente da droga: “Eu usava para dormir e acordava para usar”, revela
A cidade criou um centro de tratamento há dez anos. Resultado: o total de roubos e furtos em Cachoeirinha caiu 25% desde 2007. No local, 250 pessoas se livraram do crack.
“Isso vai servindo para que um se espelhe no outro. Se aquele menino conseguiu, eu posso também. E todos podem. Não existe ninguém que seja irrecuperável”, destaca Tomazeski Coimbra, coordenador do centro.
Traficantes vendem crack tranquilamente. Não se intimidam nem com a passagem da polícia Contam dinheiro nas ruas, distribuem a droga. Em uma rua dominada pelo crack, a droga passa pelas mãos de homens, mulheres e crianças.
As imagens do Centro de São Paulo são um retrato explícito do consumo do crack no Brasil. A droga hoje está presente em 92% dos municípios do país, segundo uma pesquisa recente. Chegou até cidades muito pequenas, pacatas.
Como Buri, a 250 quilômetros de São Paulo. A cidade tem 18.500 habitantes. No ano passado, a droga se tornou uma das maiores preocupações do prefeito Claudio Ú Fonseca. “Está devastador. Todas as escolas têm o pequeno traficante vendendo ou dando o tal do crack”, desabafa. Ele calcula que das 4 mil crianças nas escolas de ensino fundamental, 1,5 mil estão expostas ao crack. Há traficantes nas redondezas das escolas e troca da droga se espalha entre os próprios alunos.
Oitenta por cento dos casos de crianças e jovens que abandonam a escola em Buri estão ligados ao crack.
“Alguns assistem à primeira aula, depois ficam duas aulas fora. Retornam para o intervalo. Aí já retornam assim com comportamento estranho, sem limites”, conta a diretora Maria Cecília de Lima.
Uma solução encontrada pela Prefeitura de Buri foi a construção de muros altos nas escolas, com arame farpado em cima. Algo nada comum em cidades pequenas. Mas a intenção é impedir que os traficantes levem a droga para dentro e que os alunos fujam das escolas para consumir crack.
Uma manicure descobriu que o filho de 12 anos é usuário. O menino deixou de ir à escola, fugiu de casa e já não fala mais com mãe. “Hoje mesmo eu o vi na rua. Eu tento todas as vezes falar com ele, só que ele foge. Ele não fala comigo”, conta. A mãe pediu à Justiça a internação do menino.
O que uma cidade como Buri tem a oferecer para uma família que tem problema com drogas? “Hoje não tem nada a oferecer. Não tem um grupo de apoio, não tem um AA, não tem um Narcóticos Anônimos. Então, o tráfico vê em Buri um ambiente propício para se instalar”, explica Paola Bertocco, promotora de Justiça de Buri.
A pesquisa da Confederação Nacional de Municípios confirma que 64% das cidades entrevistadas têm dificuldade para tratar os usuários. Nos municípios pequenos, o problema é ainda mais grave. Em muitas deles, não há centros especializados para atendimento e internação. Um exemplo é Itajuípe, na Bahia, com 21 mil habitantes.
A mãe de duas dependentes, uma de 22 anos e outra de 30 encontrou opções de tratamento pagas. “Eu não tenho condições de pagar R$ 200, R$ 300. Não tenho. Elas dizem 'Mãe, se arrumar um lugar assim para eu ir, eu quero'. E eu tenho meu sonho que apareça esse lugar, né?”, espera a mãe.
Quem procura atendimento é enviado pela Prefeitura de Itajuípe a outros municípios. Em Minas Gerais, o pintor Cléber teve de viajar para conseguir tratamento em Montes Claros. Ficou lá por nove meses, mas não conseguiu acabar com a dependência. “Perdi minha identidade própria, respeito da sociedade”, lamenta.
“O crack é seguramente uma das drogas mais agressivas que a gente conhece. As cidades pequenas, via de regra, estão menos aparelhadas para lidar com um problema que demanda uma atitude multifatorial para dar conta do problema”, diz o professor Unifesp Dartiu Xavier da Silveira.
Estrutura nem sempre é suficiente. São Paulo, a maior cidade do Brasil, centro financeiro do país, sofre há anos para combater o tráfico e acabar com a cracolândia. “Temos mais de mil vagas de internação na cidade, programas especializados, mesmo com isso, o trabalho é muito lento. As pessoas não aderem ao tratamento e depois interrompem o tratamento”, explica Januario Montone, secretário municipal de Saúde de São Paulo.
O Governo Federal vai lançar nos próximos dias um plano de combate ao crack. Serão criados consultórios de rua, que funcionarão como postos móveis de atendimento a dependentes químicos. Também haverá recursos para o treinamento de equipes e de prevenção.
“Se nós capacitarmos um educador para lidar com essa questão no início, no possível início de consumo, certamente esse aluno não vai chegar em condição de internamento”, alega Paulina Duarte, secretária nacional de políticas sobre drogas.
O município de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, é um exemplo de sucesso no combate ao crack. O próprio prefeito, Luiz Vicente Pires, foi dependente da droga: “Eu usava para dormir e acordava para usar”, revela
A cidade criou um centro de tratamento há dez anos. Resultado: o total de roubos e furtos em Cachoeirinha caiu 25% desde 2007. No local, 250 pessoas se livraram do crack.
“Isso vai servindo para que um se espelhe no outro. Se aquele menino conseguiu, eu posso também. E todos podem. Não existe ninguém que seja irrecuperável”, destaca Tomazeski Coimbra, coordenador do centro.
Fonte: Matéria exibida no Fantástico, em 20/11/11. Link: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1676800-15605,00.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário