“Me separei por amor e ainda acredito em um final feliz para nossa história”
Mãe de três filhos, pós-graduada e apaixonada por um dependente químico, Polyana diz ter aprendido amar o próximo como ama a si
Polyana, pela segunda vez, é paciente secundária da dependência química. A primeira ela experimentou no papel de filha: “Aos 16 anos, meu pai morreu de overdose”.
A segunda, ainda está em curso. O marido, pai de dois dos seus três filhos, está internado para tratar o uso compulsivo de crack e cocaína.
Na primeira experiência, ela não compreendeu que o próprio comportamento poderia ser nocivo e precisava ser tratado. Agora, aos 35 anos, entende o conceito de codependente e diariamente comprova que o amor que sente pelo marido não pode ser transformado em ingrediente para a doença dele ou em gatilho para a ansiedade e depressão dela.
Hoje ela prepara o segundo livro sobre o assunto, com a experiência do blog "Amando um dependente químico". Todas as obras foram assinadas com o pseudônimo Polyana.
“Ainda acredito em um final feliz para a nossa história e esse otimismo que me persegue é muito 'poliano'”, diz ela, em referência ao romance infanto-juvenil do início dos anos 80, que acabou transformando o nome da protagonista em sinônimo para visão otimista.
“Sou formada, pós-graduada e casada com um dependente químico. É um problema que pode acontecer com qualquer um. Entendi que os dias de dores podem ser seguidos por dias de superação”, diz ela, que mora em Brasília e hoje trabalha para ajudar pessoas com histórias parecidas. Leia a entrevista.
A história com o seu pai, de alguma forma, interferiu na história com o seu marido?
Quando você conseguiu mudar de postura?
Polyana: É uma luta diária. Eu amo o meu marido e há três semanas o deixei, por amor. Buscando ajuda para mim, compreendi que o impedia de arcar com as consequências do uso de droga pois assumia todas as consequências como falhas minhas. É uma postura doentia que atrapalha dos dois lados. Para um codependente, dizer não é mais difícil do que dizer sim e com isso você vai tolerando comportamentos abusivos. Do outro lado, o dependente também vai repetindo as condutas de abuso por não enxergar as consequências. É uma falsa cumplicidade que afunda os dois lados.
Neste processo, como ficaram seus três filhos?
Polyana: Tenho dois filhos com ele, um de 3 anos e um mais novo, de 1 ano. E uma menina mais velha, de 11 anos, de outro relacionamento. A mais velha já foi deixada de lado no início e, certa vez, em um dos grupos de apoio, me perguntaram se seria preciso ela começar a usar drogas também para ganhar a minha atenção. Minha ficha caiu. Separei o papel de esposa do papel de mãe. Meus outros filhos foram muito desejados e gerados em períodos de abstinência, em que eu já havia começado a estudar e a fazer tratamento para a codependência. A decisão atual de me separar foi por causa deles. Pela primeira vez, meu marido colocou em risco meus filhos e os levou, junto com ele, para comprar drogas. Não tolerei e me afastei. Ele procurou uma clínica e está internado. Eu ainda espero um final feliz para a nossa história, mas sei que ele é responsável pela própria recuperação.
Você não teve medo de ficar ainda mais culpada por causa do afastamento, com a sensação de que estava abandonando o pai dos seus filhos?
Polyana: Estudando codependência a gente se dá conta de uma coisa. Você conhece um ser humano, um só, que diz: olha, eu resolvi procurar ajuda porque a minha esposa me apoia demais’? Eu nunca vi e conheço milhares de dependentes. Estudá-os virou minha profissão e hoje como funcionária pública da secretaria de Justiça desenho projetos que foquem nas famílias. A recuperação deles não está nas nossas mãos. Tirar a culpa da costas não é uma opção egoísta. É amar o próximo como amar a si e isso quem prega não sou eu. Permitir que o dependente químico arque com as consequências é o único caminho para recuperação dele.
Você descobriu como cuidar de si sem abrir mão do apoio familiar, tão lembrado pelos psiquiatras como aspecto importante na recuperação do doente?
Polyana: Sou contra o abandono. Como eu apoio? Busquei ajuda para mim. Nos grupos a gente aprende a lidar com essas pessoas e entende que elas precisam de limites. Deixar que eles tenham responsabilidades é a forma mais eficaz de dizer que você confia nele pois acredita que ele é capaz. Fazer por ele é, indiretamente, dizer que ele não é capaz de fazer sozinho.
Você chegou a adoecer?
Polyana: A gente sempre adoece. Tive tremores, dor de cabeça, insônia, ansiedade e depressão. Parei minha vida. Se não me tratasse, não estaria inteira para este processo de recuperação que meu marido inicia. Sou mãe, apaixonada, mas sou mulher, tenho minhas vontades e meus sonhos. Se os projetos cuidassem mais das famílias, incentivando e orientado condutas assertivas, tenho certeza de que o número de finais felizes seria maior.
Fonte: http://saude.ig.com.br/minhasaude/2013-04-17/me-separei-por-amor-e-ainda-acredito-em-um-final-feliz-para-nossa-historia.html
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A segunda, ainda está em curso. O marido, pai de dois dos seus três filhos, está internado para tratar o uso compulsivo de crack e cocaína.
Na primeira experiência, ela não compreendeu que o próprio comportamento poderia ser nocivo e precisava ser tratado. Agora, aos 35 anos, entende o conceito de codependente e diariamente comprova que o amor que sente pelo marido não pode ser transformado em ingrediente para a doença dele ou em gatilho para a ansiedade e depressão dela.
Hoje ela prepara o segundo livro sobre o assunto, com a experiência do blog "Amando um dependente químico". Todas as obras foram assinadas com o pseudônimo Polyana.
“Ainda acredito em um final feliz para a nossa história e esse otimismo que me persegue é muito 'poliano'”, diz ela, em referência ao romance infanto-juvenil do início dos anos 80, que acabou transformando o nome da protagonista em sinônimo para visão otimista.
“Sou formada, pós-graduada e casada com um dependente químico. É um problema que pode acontecer com qualquer um. Entendi que os dias de dores podem ser seguidos por dias de superação”, diz ela, que mora em Brasília e hoje trabalha para ajudar pessoas com histórias parecidas. Leia a entrevista.
A história com o seu pai, de alguma forma, interferiu na história com o seu marido?
Polyana: De alguma forma, acredito que sim. Meu pai usou droga dos 17 aos 51 anos, idade em que morreu por causa de uma overdose. Eu cresci vendo um pai alienado, depois alucinado e depois ausente. Não tinha uma noção exata, mas de certa forma avalio que esta experiência criou em mim uma tolerância às drogas. Ficou marcado em mim que tudo que eu não pude fazer por ele eu faria por outra pessoa. Tanto que conheci meu marido em um bate-papo virtual e desde o primeiro momento ele me disse que era usuário de cocaína. Eu morava em Brasília e ele nos Estados Unidos. Uma das primeiras perguntas que fiz foi se ele tinha algum vício. A resposta afirmativa poderia ter afastado outra pessoa, mas em mim despertou a curiosidade de saber mais sobre aquela história. Hoje tenho a certeza que já era o meu comportamento codependente, essa necessidade de salvar. Nos falávamos diariamente, por telefone, e surgiu algo mais. Óbvio que não era por causa da droga. Ele é admirável, inteligente, parceiro. Nos conhecemos em julho, em dezembro eu estava desembarcando nos Estados Unidos. Na minha cabeça, eu imaginava que o amor seria suficiente para tirá-lo do mundo das drogas.
E quando veio a constatação de que seu amor não era suficiente, como você ficou?
Polyana: Foram dias, anos, de muita culpa e frustração. Nos primeiros três anos, eu não sabia o que era codependência. Achava que todo o meu sofrimento era por culpa da dependência dele e não me dei conta que parei de viver. Vivia para isso. Ele passava momentos sem usar drogas e outros usando muito e quando vinham as recaídas eu pensava o que eu tinha feito de errado. É um peso nas costas. A gente não sabe que precisa de ajuda também. A vida fica parada, milimetricamente controlada, em sobressalto. ‘Será que se eu não fizesse aquela cara feia, ele não teria recaído?’ é só um exemplo dos pensamentos que eu tinha com frequência.
Quando você conseguiu mudar de postura?
Polyana: É uma luta diária. Eu amo o meu marido e há três semanas o deixei, por amor. Buscando ajuda para mim, compreendi que o impedia de arcar com as consequências do uso de droga pois assumia todas as consequências como falhas minhas. É uma postura doentia que atrapalha dos dois lados. Para um codependente, dizer não é mais difícil do que dizer sim e com isso você vai tolerando comportamentos abusivos. Do outro lado, o dependente também vai repetindo as condutas de abuso por não enxergar as consequências. É uma falsa cumplicidade que afunda os dois lados.
Neste processo, como ficaram seus três filhos?
Polyana: Tenho dois filhos com ele, um de 3 anos e um mais novo, de 1 ano. E uma menina mais velha, de 11 anos, de outro relacionamento. A mais velha já foi deixada de lado no início e, certa vez, em um dos grupos de apoio, me perguntaram se seria preciso ela começar a usar drogas também para ganhar a minha atenção. Minha ficha caiu. Separei o papel de esposa do papel de mãe. Meus outros filhos foram muito desejados e gerados em períodos de abstinência, em que eu já havia começado a estudar e a fazer tratamento para a codependência. A decisão atual de me separar foi por causa deles. Pela primeira vez, meu marido colocou em risco meus filhos e os levou, junto com ele, para comprar drogas. Não tolerei e me afastei. Ele procurou uma clínica e está internado. Eu ainda espero um final feliz para a nossa história, mas sei que ele é responsável pela própria recuperação.
Você não teve medo de ficar ainda mais culpada por causa do afastamento, com a sensação de que estava abandonando o pai dos seus filhos?
Polyana: Estudando codependência a gente se dá conta de uma coisa. Você conhece um ser humano, um só, que diz: olha, eu resolvi procurar ajuda porque a minha esposa me apoia demais’? Eu nunca vi e conheço milhares de dependentes. Estudá-os virou minha profissão e hoje como funcionária pública da secretaria de Justiça desenho projetos que foquem nas famílias. A recuperação deles não está nas nossas mãos. Tirar a culpa da costas não é uma opção egoísta. É amar o próximo como amar a si e isso quem prega não sou eu. Permitir que o dependente químico arque com as consequências é o único caminho para recuperação dele.
Você descobriu como cuidar de si sem abrir mão do apoio familiar, tão lembrado pelos psiquiatras como aspecto importante na recuperação do doente?
Polyana: Sou contra o abandono. Como eu apoio? Busquei ajuda para mim. Nos grupos a gente aprende a lidar com essas pessoas e entende que elas precisam de limites. Deixar que eles tenham responsabilidades é a forma mais eficaz de dizer que você confia nele pois acredita que ele é capaz. Fazer por ele é, indiretamente, dizer que ele não é capaz de fazer sozinho.
Você chegou a adoecer?
Polyana: A gente sempre adoece. Tive tremores, dor de cabeça, insônia, ansiedade e depressão. Parei minha vida. Se não me tratasse, não estaria inteira para este processo de recuperação que meu marido inicia. Sou mãe, apaixonada, mas sou mulher, tenho minhas vontades e meus sonhos. Se os projetos cuidassem mais das famílias, incentivando e orientado condutas assertivas, tenho certeza de que o número de finais felizes seria maior.
Fonte: http://saude.ig.com.br/minhasaude/2013-04-17/me-separei-por-amor-e-ainda-acredito-em-um-final-feliz-para-nossa-historia.html
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