Quantas mulheres que amam ou amaram um dependente químico já não enfrentaram a mesma acusação absurda? Como o grupo Narcóticos Anônimos bem coloca, não há nada a fazer se o dependente químico não se conscientizar de que está doente, de que não tem controle sobre a compulsão e de que precisa de ajuda para se livrar dela. O terceiro mandamento do NA é claro sobre isso: "Um adicto que não queira parar de usar não vai parar de usar. Pode ser analisado, aconselhado, pode se rezar por ele, pode ser ameaçado, surrado ou trancado, mas não irá parar até que queira parar".
Por outro lado, é importante enfatizar que ir além dos próprios limites para tentar "salvar" alguém não é nada saudável. Quem compartilha a vida com um dependente químico, alcoólatra ou vítima de outra compulsão pode acabar, sem perceber, desenvolvendo um transtorno emocional chamado de codependência. Segundo o psiquiatra Geraldo José Ballone, criador do site PsiqWeb, codependentes são familiares, normalmente pais, filhos ou cônjuges, que vivem obsessivamente em função da pessoa problemática."Tentam ajudá-la o tempo todo, esquecendo de cuida da própria vida."
Normalmente são pessoas que têm baixa autoestima, intenso sentimento de culpa e não conseguem se desvencilhar da pessoa dependente. Quantas pessoas não conhecemos com esse perfil? Suportam todo tipo de comportamento compulsivo do outro, como se assumissem uma espécie de "carma", como se esse fosse o seu destino. Existe uma expressão na psicologia e na psiquiatria que representa bem a maneira como o codependente adere à pessoa problemática: atadura emocional. Acontece quando uma pessoa se"atrela "emocionalmente a coisas negativas ou patológicas de alguém que a rodeia. Por causa dessas amarras emocionais, o codependente passa a ser quase um outro dependente (da pessoa problemática). Ele quer ser o "salvador" da outra pessoa. Mas o problema do codependente é muito mais dele próprio do que da pessoa problemática.
Todo amor que não produz paz, mas sim angústia ou culpa, pode estar contaminado de codependência. É um amor patológico, obsessivo e bastante destrutivo. Atualmente, há grupos de ajuda para familiares de dependentes (químicos e alcoólicos) que se propõem a tratar a codependência, orientando os familiares a adotarem comportamentos mais saudáveis. Os profissionais acreditam que o primeiro passo para a mudança é tomar consciência e aceitar o problema.
O tratamento pode envolver psicoterapia, terapia familiar, uso de medicamentos e grupos de autoajuda, como o Alanom e Codependentes Anônimos (nos mesmos moldes dos Alcoólicos Anônimos). A polêmica em torno da morte de Chorão é um bom momento para a sociedade refletir sobre essa questão, que geralmente fica ofuscada pelo enorme peso da dependência química. Devemos pensar nisso antes de sair por aí atribuindo culpas a pessoas que, muitas vezes, estão tão frágeis e doentes quanto o próprio dependente químico.
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.
Fonte: Folha de São Paulo - Equilíbrio e Saúde
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